É
sempre com emoção que participo de momentos representativos da vida da escola.
Fui convidada a presenciar uma atividade extracurricular, no final do ano
letivo, uma representação teatral, de uma renomada escola. Ela contou com a
presença de pais, de familiares e representantes da comunidade. Foi uma
atividade que agradou pela organização, pela esmerada apresentação e pelas
significativas mensagens passadas. Deixou transparecer a escola que representa.
Houve um congraçamento enaltecedor das relações humanas, com saldo positivo
para a escola. Um envolvimento caloroso entre professores e alunos, entre
escola e comunidade, em cumprimentos efusivos.
Os alunos representaram no palco, em seis atos, não muito
longos, com trajes típicos, cuidadosamente confeccionados, algumas das nacionalidades
que despontam no cenário político mundial, em termos de riqueza e em termos de
pobreza. Ao lado da beleza do espetáculo, a representação passou imagens
significativas em valores humanos, uma auspiciosa sugestão de integração entre
os povos, um ensinamento no "formar a roda", no sentido da
solidariedade.
Presenciamos a escola exercendo, criativamente, de modo
prazeroso, a função social de educar para a paz, para o amor. A escola abrangendo
a visão pluralista da educação e da vida, preparando o aluno para entender o
momento atual de guerra e de terrorismo, para entender o lado humano que deve
nortear o conceito de globalização. Repetindo o educador Antonio Severino: “O
professor deve ser fundamentalmente particular e fundamentalmente universal.
Pensar globalmente, agir localmente”.
O mundo de amanhã pertence aos jovens. Se quisermos, para eles,
um mundo de paz,
temos que levá-los a refletir sobre as relações de poder. O paradigma do
mercado é a polpuda conta bancária e não a dignidade pessoal. A concentração de
renda gira forte entre os poderosos e não permite a entrada dos excluídos. É,
pois, a mudança de valores, e não mecanismos econômicos, que vai permitir a
reversão do sistema.
A escola está passando da hora de parar de reproduzir
informação e começar a formar, a trabalhar caráter, afetividade, preconceito,
diferenças, desníveis sociais, apontando para uma convivência pacífica.
Escola é um espaço educacional. Deve saber oportunizar os momentos
da educação. Ela não molda, mas interfere na formação da personalidade.
Considerei a escolha, da representação teatral, feliz, porque abre a mente e o
coração para o acolhimento universal, para a compreensão das opulências e das
carências que se contradizem na vida dos povos.
A pobreza, a miséria, que são os pivôs da exclusão social,
geram revolta e violência. A violência vem sendo tratada, nos meios educacionais,
como um item prioritário, tanto assim que a Pontifícia Universidade Católica
(PUC), de Campinas, criou um curso, inédito no País, de pós-graduação de
prevenção à violência. O curso é ministrado por especialistas contratados
especificamente para ele, tem duração de um ano e é voltado para profissionais
de áreas que lidam, diretamente, com vítimas, autores ou situação de violência.
A escola, preparando-se para educar na direção das
diferenças sociais, estará dando acentuada contribuição ao combate da
violência. Para se ter uma idéia das discrepâncias sociais, vejamos o que nos
expõe o Banco Mundial, quando fala que dois terços da população mundial vivem
abaixo da linha da pobreza: “Habitam o nosso planeta, hoje, 6,1 bilhões de
pessoas. Só 2,1 bilhões desfrutam de condições dignas de vida. Os outros 4
bilhões padecem: 2,8 bilhões vivem abaixo da linha da pobreza, o que significa
que não dispõem de renda mensal equivalente a mais de US$ 60. E 1 bilhão e 200
milhões vivem abaixo da linha da miséria, porque possuem renda mensal inferior
ao equivalente a US$ 30” .
Os alunos, nessa atividade extracurricular, ao viver no
palco sentimentos de patriotismo,
peculiaridades culturais, sociais e econômicas dos diferentes povos,
tornam-se mais sensíveis à questão da desigualdade. O interessante é que
participaram da representação também atores mirins, correspondentes à faixa
etária do período escolar referente à educação infantil, fase da vida em que se
deve dar ênfase à formação da personalidade.
Hoje, nós sabemos que a pré-escola é a detentora do troféu
das transformações sociais. Quando dizemos que as crianças são o futuro do
País, não estamos nos valendo de expressão feita, mas de um profundo sentido
real. O provérbio popular, que diz: “É de menino que se torce o pepino”, é rico
em sabedoria. “Nós somos o que a criança que fomos fez de nós”. Machado de
Assis dizia: “O menino é o pai do homem”.
Podemos perceber o quanto o adulto está na criança, o quanto
sai da criança, o quanto é filho da criança. Só a educação das primeiras letras
é capaz de modificar o quadro reinante, quadro de sociedades profundamente
marcadas por desigualdades de acesso aos bens essenciais.
Um outro aspecto da função da escola, além do conhecimento,
é a passagem dos valores morais. A pedagogia nos ensina que justiça,
solidariedade, tolerância, obediência às regras, respeito ao limite, são valores
que se aprendem, como também se aprendem os antivalores: injustiça, crueldade,
preconceito, egoísmo, desrespeito ou desprezo pelas normas.
A escola de educação infantil, especialmente, deve primar-se
por formar moralmente as crianças. É nessa faixa de idade que se constrói o
alicerce. Sabemos que, ultrapassada a fronteira da infância, em torno dos 13 ou
14 anos, fase da adolescência, a mudança de personalidade torna-se difícil.
A educação infantil se investe, assim, da responsabilidade
de educar para os valores morais, para a formação religiosa.
Para se chegar à mudança social, ela deve valer-se de
projetos alternativos, que conscientizem, estimulem e restaurem os valores humanos,
os compromissos éticos. Parabenizo a
escola pela estratégia montada a favor da formação do educando, pela
idealização da mensagem de paz, pelo despertar de consciências.
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