A
criança, o jovem, estão expostos às mais variadas influências de comportamento.
A concorrência parece seqüestrar a educação. Temos a televisão, cinema, toda
uma mídia a destilar inovação. Os pais, trabalhando fora de casa, o dia todo, com vida
estressada, pouco ânimo têm para cumprir o seu papel de educador, delegando
essa competência à escola.
Os pais, ao não assumirem a educação dos filhos,
sobrecarregam a escola, que se torna mais uma vítima da falta de educação que
vem caracterizando a infância e a juventude. Quando a escola cobra dos pais
educação dos filhos, estes devolvem a responsabilidade para ela. O que vem
acontecendo é que etiquetas, regras de convivência, de boas maneiras, estão
começando a fazer parte do currículo escolar. A escola começa a ensinar coisas
básicas, esquecidas das famílias, como não gritar, não falar alto,
não falar de boca cheia, não jogar lixo na rua, organizar a bagunça em casa ou
ter hábitos saudáveis de higiene.
Uma grande reclamação dos professores é de que os alunos não
obedecem, não respeitam, não toleram dialogar, não sabem conversar, revelando comportamento
agressivo, resultado da falta de educação. Mostram uma rebeldia que denota
ausência de limites, ausência iniciada em casa e prorrogada pela escola..
Vive-se o resultado da falta de limites de uma geração. O
adulto não dá o exemplo e a criança e o jovem repetem o que presenciam. Não
adianta dizer que não é educado gritar, falar palavrões, se é assim que os
adultos agem. O desajuste aumenta quando os valores passados pela escola
diferem do que é veiculado pela mídia. Tomemos o exemplo, dentre os
ensinamentos básicos, do respeito ao outro e especialmente do respeito aos mais
velhos, preceitos esquecidos por conta da cultura do individualismo, do
comportamento “do se dar bem”, tão marcados pela mídia e que vai contaminando a
todos.
No processo da educação tradicional, a proposta era ensinar
o respeito pelo respeito. A pedagogia moderna orienta para o pensar junto, o
pensar de como se viver melhor, na compreensão de que se eu quero ser bem
tratado, o outro também quer. Tem que haver igualdade de condições,
reciprocidade.
As famílias precisam entender que a escola não substitui a
educação dos pais, ela complementa, auxilia, reforça. Se a educação em casa
falha, ela supre com relatividade, mas, isso lhe acarreta prejuízos
instrucionais, prejuízo no conhecimento sistematizado. A escola sabe que não
pode ignorar os aspectos
comportamentais, porque a falta de educação vai marcar a sociedade de um
retrocesso, de uma “volta à selva”, mas sabe, também, que não substitui a
família.
Além disso, escola e
pais perdem-se meio a tantas inovações, a tantos modismos e, às vezes, fica
difícil saber o que é certo e o que é errado. Os valores a serem transmitidos
devem ter a aquiescência de todos os envolvidos no processo da educação, ou
seja, da escola e dos pais. Pais e professores devem falar a mesma linguagem,
para não criar conflito, causar confusão. Devem discutir o assunto e tomar medidas
comuns.
Há, contudo, aspectos da educação que excluem a escola, que
são de absoluta competência dos pais, como, por exemplo, a punição física. A
punição física é um aspecto importante, polêmico, onde não há unanimidade sobre
o assunto, não só entre os pais, como entre os psicólogos, pediatras,
psiquiatras ou psicoterapeutas. A punição grave, as surras, são taxativamente
condenadas, caracterizadas como violência.
Quanto ao tapa, o
“tapinha no bumbum”, o entendimento é
contraditório. Há os que condenam e há os que acreditam que ele tem o seu
lugar, o seu momento. Os que são contra à palmada ou ao castigo, como método de
educação, afirmam que, embora um tapa e um espancamento sejam diferentes, o
princípio que os rege é o mesmo: o uso da força, do poder. Os psicólogos dizem
que o uso da força física é uma forma de conseguir, rapidamente, o que se
deseja, mas provoca revolta e não conscientiza.
Quando se pergunta a uma criança o que ela sente após uma palmada,
as respostas freqüentes são raiva, dor, tristeza. Baixa auto-estima,
agressividade, dificuldade em se relacionar, em confiar um no outro,
infelicidade e retardamento mental, estão entre as conseqüências da violência
contra crianças. Várias pessoas entrevistadas consideraram o diálogo, o ensinar
o certo e o errado, procedimentos bem mais válidos, mas uma grande maioria
admitiu o tapinha eventual, quando a criança extrapola os limites.
Há, porém, unanimidade quanto aos malefícios da violência
psicológica, tida, pelos psicólogos, como pior que a violência física. Dizer à
criança: “Você não faz nada direito”, “não dá para confiar em você”, remoem e
acabam por influenciá-la nessa direção.
Outra questão contraditória é sobre o castigo. Há quem
acredita, como o psicólogo Haun Grüspun, que as palmadas podem ser substituídas por
castigos. Diz ele: “Privar a criança, que erra, de algo que ela gosta é o que
mais falta em nossos dias. Se os pais não colocarem restrições diante do erro
vão acabar criando, não-cidadãos, pessoas anti-sociais”. Os adeptos dessa linha
acreditam que o castigo, que impõe limite, é fundamental e que se deve sempre
estabelecer a ligação entre a natureza da malcriação e a penalidade.
Há, também, uma outra vertente que acredita que castigo não
é menos ruim que palmada. Castigo é vingança, é autoritarismo. É uma barganha e
não uma relação afetiva. Portanto, nem castigo, nem palmada.
Segundo especialistas, não há trabalhos científicos que
confirmam a eficiência da palmada; em compensação, um estudo norte-americano
mostra que crianças, que raramente ou nunca apanharam, têm melhor desempenho em
alguns testes de inteligência do que as que apanharam com freqüência. A
explicação também está em que os pais que não usam de violência se empenham
mais em dialogar, estimulando a capacidade de aprender.
Sempre é bom lembrar aos pais e aos professores
que educar é um trabalho gradual, diário e que não se impõe limites de uma hora
para outra. Mais vale conscientizar que simplesmente castigar. “A cada vez, a
criança vai entendendo as situações, principalmente, se tudo acontece de
maneira amorosa, com o intuito de ensiná-la. A criança disciplinada é mais
sadia psicologicamente que a indisciplinada ou a mimada, que, em geral, ‘é mais frágil”, adverte o psicólogo Thomas Berry Brazelton
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