A EVOLUÇÃO
DO CONCEITO DE
TÉCNICO
O técnico sempre foi visto pela sociedade como uma função menor, menos
conceituada e, por isso, desprezada pelas classes sociais mais altas. A
freqüência ao ensino técnico parecia aos jovens um jogo de cartas marcadas, no
qual eles aprendiam, desde cedo, a cultivar um certo ceticismo acerca das
perspectivas que esse ensino lhes oferecia. Viam nele um futuro menos
promissor.
A extinta Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei de n° 5.692/71,
promoveu um ressurgimento dos cursos técnicos, que, na realidade, não
produziram o efeito esperado. Houve um desvirtuamento da função: as escolas
técnicas federais, de equipamento priorizado e de professores com melhores
salários que os da rede pública, passaram a ministrar um ensino de qualidade
bem superior às das demais escolas públicas e, por isso, serviram de trampolim
para a universidade. Na realidade, elas não estavam formando técnicos; a
maioria dos alunos as procurava buscando a formação acadêmica de alto nível.
Após receberem o diploma de técnico, iam disputar as vagas nas melhores
universidades públicas e sempre com sucesso. Um estudo mostrou que entre as 10
escolas secundárias de São Paulo, que melhor preparavam seus alunos para o
vestibular, estava a Escola Técnica Federal Paulista.
A procura pela parte acadêmica
das escolas técnicas as distanciou do mercado de trabalho. O acesso a elas
passou a ser através de “vestibulinhos”, nos quais saíam vencedores os alunos
provenientes das boas escolas particulares. E, “o dinheiro público investido no
que deveria ser um programa de formação de técnicos, dos quais o País desesperadamente
necessitava, acabou ajudando a preparar novos profissionais liberais em
áreas já saturadas (...). As escolas técnicas federais tornaram-se excelentes
escolas acadêmicas, foram capturadas pela classe média-alta e se eletizaram.
Deixaram de cumprir sua função original, que era a de preparar mão-de-obra
intermediária de bom nível e passaram a formar candidatos para o vestibular a
um custo de US$ 4,5 mil por aluno”, diz Cláudio de Moura Castro, considerado o
mentor do projeto do MEC para a reforma do ensino médio.
O propósito, ao separar no ensino médio a parte acadêmica da parte
técnica, foi a de levar esse ensino a redescobrir sua missão e oferecer técnicos
de primeira linha, como são, em geral, os do Senai e Senac.
Mesmo com o aumento da criação dos cursos técnicos, continuava a
corrida para os cursos superiores, sem um controle, sem um balanceamento das
necessidades sociais. O Brasil, aliás, é conhecido pela longa tradição na
valorização excessiva do diploma de nível superior, da busca do “status”, do
título em si, hoje, com alguns dados agravantes, como a crise vigente do
desemprego, em áreas que se tornaram quase impraticáveis. Eça de Queiroz via o
Brasil como um País de doutores e Rui Barbosa assinalava-nos como um País de bacharéis.
Na contemporaneidade, essa concepção começa a mudar. Há um início de
reviravolta; mudam-se os rumos da atuação profissional. As profissões técnicas
começam a descortinar-se alentadoras, com colocações vantajosas de trabalho,
especialmente se o profissional tiver habilidades para diferentes ocupações.
O
PROFISSIONAL GLOBALIZADO –
Vivemos uma época de reformulação completa dos vínculos empregatícios. No
impacto da globalização, o que vem ocorrendo é a diminuição do trabalho sob a
forma de emprego permanente numa única empresa e num mesmo local. Antigamente,
era mais fácil associar uma pessoa a uma profissão, a um emprego, a uma
empresa. Parece que a época da supervalorização do diploma está cedendo lugar
para a época do profissional globalizado, em que a especialização não
prejudique a amplitude do conhecimento. Um profissional multifuncional, que
sabe fazer variadas tarefas. O mercado de trabalho está muito interligado.
Nossa era é a da informação e está exigindo o que se convenciona chamar de conhecimentos
transportáveis de uma ocupação para outra. A rotatividade das funções está
pedindo um profissional polivalente, em permanente flexibilização e adaptação.
Muitas empresas não estão dando mais a ênfase que davam no passado à
especialização indicada pelo diploma. O que mais interessa são as competências
e as habilidades para variadas tarefas. A demanda é por profissionais com conhecimentos
transportáveis entre ocupações.
O conhecimento, a versatilidade, a criatividade, são as ferramentas
básicas do momento atual. A indústria anda precisando mais de engenho e de
empenho na inovação do que propriamente
de dinheiro. O publicitário norte-americano George Lois diz: “Hoje, uma idéia
que esteja cinco anos à frente de seu tempo já não é mais uma boa idéia”.
Um estudo desenvolvido na Inglaterra demonstrou que entre os futuros
executivos as prioridades não incluem mais apenas trabalho e dinheiro. Eles
possuem expectativas bem diferentes das gerações anteriores. Os valores
mudaram: conhecimento e habilidades pessoais são vistos como prioritários. O
desenvolvimento pessoal levando a habilidades pessoais é o principal valor
apontado pelos melhores alunos, seja em Oxford, seja na Universidade de Tóquio
ou na London School of Economics. O universo pesquisado incluiu as três
principais universidades na área da administração nos Estados Unidos, na
Grã-Bretanha, no
Canadá, na
Holanda, na Alemanha,
na França, na Coréia do Sul, no
Japão, na África do
Sul e na Austrália. O crescimento pessoal alcançou a pontuação máxima nas
ambições dos jovens para os próximos 10 anos.
Andrew Grove, o “Homem do Ano”, da Time (98), recomenda: “Fique atento
às mudanças. Não resista a elas. Procure entendê-las. Encare-as, não como
problemas, mas como soluções”.
O mercado vive a supremacia da informação. Já se apregoa que a boa formação do futuro
tem que estar apoiada em dois vetores: o da formação do consumidor da cultura e
o do produtor de cultura. O analfabeto funcional não é só aquele que
simplesmente aprendeu a ler e a escrever, mas aquele que não cultivou o
exercício continuado da leitura e da escrita na sua forma evoluída de pensar,
de criar, de raciocinar, de criticar.
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