A escola entra numa nova era, em relação à transmissão do conhecimento.
Ressalta determinados comportamentos já sacramentados pela metodologia, como a
interdisciplinaridade e a contextualização do currículo. Interliga as áreas do
saber e busca soluções práticas dos problemas cotidianos.
Essa nova abordagem do conteúdo é parte integrante das
inovações pedagógicas. Ela se encontra inserida no Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) e, agora, o exame vestibular da Fuvest colocou em seus planos
modificações desde o fim de 2001. Quer
uma prova que se aproxime mais do Enem, com mais raciocínio, mais resoluções de
problemas e menos fórmulas. Uma prova com inter-relação das disciplinas,
elegendo grandes áreas e conteúdos mais próximos do vestibulandos. Quer medir
menos conteúdo e mais competência e habilidade para atender às exigências
práticas da vida moderna. Aliás, no ano
de 2002 já foi notada a diferença, com o exame vestibular exigindo mais raciocínio.
Os professores sentem a mudança, a necessidade de renovação
no processo pedagógico, mas não sabem como aplicá-la. Estão, ainda, muito
presos à informação, têm dificuldades em formar um aluno capaz de aplicar, no
dia-a-dia, em casa, no trabalho, o que aprendeu na escola. Têm dificuldades
para desenvolver inteligências múltiplas, as competências e as habilidades,
fazer os alunos chegarem, eles mesmos, a conclusões e não fornecê-las prontas.
Têm dificuldades em aplicar o construtivismo.
A esse aspecto cognitivo da formação, há o aspecto
comportamental, da formação do caráter, da convivência pacífica, da passagem
dos valores éticos, espirituais, com acentuação maior nos primeiros anos de
escolaridade.
Os professores sentem, mas não sabem como ensinar pelo processo
do diálogo, do encadeamento do conhecimento e sua interligação; não sabem como
passar da teoria à prática, como aproximar a ciência de vida dos estudantes,
como privilegiar as atividades práticas.
É preciso arregimentar forças. Iniciativas para preparar o
professor à formação devem ser programadas e concretizadas. A ausência de apoio técnico força o professor
a repetir o mesmo modelo de aula, recebido enquanto estudante, quer na educação
básica, quer no ensino superior. As próprias faculdades continuam presas ao
ensino tradicional, de aulas expositivas, elaboradas pelo professor, de
conteúdos memorizados, num procedimento incapaz de motivar o aluno de hoje, de
levá-lo a uma reflexão, a uma interiorização maior.
O professor foi formado pela escola do “magister dixit” (o
professor fala, o aluno escuta), enquanto, presentemente, sabemos que a diferença
está entre professor que faz e professor que manda fazer. Esse proceder forma o
jogo do pingue-pongue, que se inicia na sala de aula da educação básica, vai à
sala de aula da faculdade e retorna à sala de aula da educação básica, numa
repetição freqüente.
Uma grande dificuldade, relatada pelos professores,
refere-se ao ensino como módulos de disciplinas, as chamadas áreas de conhecimento,
conforme prevê a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Eles não sabem como transitar entre os diversos
assuntos. Pela lei, enfraquecem-se as chamadas disciplinas específicas,
fortificam-se os núcleos de estudo, integrados nas Diretrizes Curriculares Nacionais.
O que se quer é um currículo escolar montado em áreas de
conhecimento e não em um conjunto de disciplinas específicas. As áreas de
conhecimento abrangem os diferentes conteúdos, das diferentes disciplinas, de
conformidade à área estipulada. No ensino médio, temos: “Linguagem e Código”,
“Ciência e Tecnologia” e “Assuntos Sociais” e todas as áreas agrupam matérias
afins.
Através das áreas de conhecimento, a escola monta um
currículo flexível, oportuniza a introdução de assuntos relacionados ao momento
histórico do ensino, como nos dias de hoje, a clonagem, as guerras, o
terrorismo, exigindo uma reordenação humana, econômica, de caráter mundial. A
introdução de temas transversais, como ética, cidadania, meio ambiente,
pluralidade cultural, sexualidade, droga... mantendo no currículo uma visão
pragmática, um ensino prático, que se distanciam da visão culturalista,
enciclopedista. Um ensino que propicie criar, ousar, fatores chaves para se
competir no mundo globalizado.
Nessa linha de consideração, alertem-se, também, os cursos
de reciclagem do professor, que, ainda, se caracterizam por atuar nos moldes
tradicionais: mantêm-se presos à informação, não planejam atividades práticas,
abordam, no discurso, aspectos formativos, trazendo, desta feita, contribuição
retraída para a metodologia renovada.
Esses cursos precisam colocar o professor na realidade de
sua prática educativa, discutir o mundo contemporâneo, as diferentes classes
sociais que tomam conta do espaço escolar, estudar estratégias que busquem uma
aproximação entre elas, um entendimento, na compreensão da diversidade cultural
e econômica, um comportamento solidário, sem preconceito. Dar armas ao
professor para interferir nessa realidade desnivelada, criando entre professor
e sociedade uma inter-relação de comunicação e de responsabilidade. Estudar, em
conjunto, uma pedagogia capaz de responder favoravelmente à diversidade, pro-
jetando
atividades alternativas na área do ensino.
O curso normal superior, o curso de pedagogia, os cursos de
reciclagem, devem programar-se para ativar a prática educativa, tornando-se
menos teóricos. Chegar, através da informação, à formação, elemento básico da
educação, da renovação dos métodos de ensino, imprescindível para atingir a
classe economicamente desfavorável e contribuir, efetivamente, para a
transformação social.
É preciso que se abrace o espírito da Lei
maior da educação, as linhas norteadoras
da reforma de ensino, se quisermos que ela venha ocorrer realmente.
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