O
grande entrave à educação no Brasil está, sem dúvida, no baixo nível
socioeconômico da população, reproduzindo o círculo de pobreza, marginalização
e exclusão social. Ressaltam-se, também, as condições precárias de trabalho das
escolas e a deficiente formação do professor, com sua adoção de métodos
ineficazes de aprendizagem, incapazes de penetrar num mundo estudantil
desmotivado, desconjunturado e extrair dele potencialidades afloradas.
Comprovadamente, a má formação docente contribui para a decadência do ensino e
essa má formação foi registrada em varadas situações. Citaremos experiências
dos anos 96, 97 e 98.
A MÁ FORMAÇÃO
DOCENTE DO ENSINO BÁSICO – Um concurso público, promovido pela
Secretaria da Educação da Bahia, para preenchimento de 7.300 vagas de
professores, reprovou mais de 90% dos candidatos. Dos 62.730 inscritos, apenas
3.291 conseguiram atingir a nota mínima – de 4,7 a 5,0, dependendo da
disciplina. O então presidente da Associação dos Professores Licenciados da
Bahia (APLB), Ruy Oliveira, informou que “a grande maioria dos candidatos é da
rede pública baiana, em cursos do magistério”.
Sobre
a formação de professores, em termos de licenciatura, o Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), do MEC, revelou que, entre 1,5 milhão
de professores do ensino fundamental, 124.642 são considerados leigos, ou seja,
não têm o 1.º grau ou o 2.º grau completos. Um total de 63,7 mil professores,
sem o 1.º grau completo, lecionam para alunos do ensino fundamental. Há, ainda,
71 professores que, embora não tendo o 1.º grau completo, lecionam para alunos
do ensino médio. Outros 997 docentes do ensino médio não possuem o 2.º grau
completo.
A
legislação determina que o professor tenha o ensino médio completo para dar
aulas no ensino fundamental em seu 1.º ciclo – 1.ª à 4.ª série. Para ministrar
aulas no 2.º ciclo do ensino fundamental – 5.ª à 8.ª série – e no ensino médio
deve ter o curso superior e a licenciatura. A lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB) determina que até o ano de 2007 os professores, para todos os
níveis, devem possuir o curso superior.
A
presidente do Inep, Maria Helena de Castro, comenta que “a falta de formação
dos professores é um dos sérios problemas do ensino, principalmente nas áreas
rurais e nas regiões Norte e Nordeste”. Essa deficiência maior só aumenta a
distância entre a diferença de aprendizagem das diversas regiões do País.
Constatou-se, por exemplo, pela avaliação, que um aluno de 4.ª série em
Brasília sabe tanto quanto um aluno
da 8.ª série
no Nordeste.
Várias
pesquisas, realizadas paralelamente às do MEC, denunciaram essa falta de
formação do professor. No Estado de São Paulo, considerado um dos mais
avançados da União, a atuação docente fica, também, a desejar. No município de
São Paulo, uma pesquisa realizada pela “Fundação-Instituto de Administração”
(FIA), da Universidade de São Paulo (USP), com professores de 1.ª a 8.ª séries,
demonstrou um pluralismo nas escolas municipais, apesar de a Secretaria
Municipal da Educação ter adotado o construtivismo como método de ensino. Os
professores alegaram sentir-se despreparados para aplicar o ensino-aprendizagem
construtivista.
Estudos
realizados pelo Instituto de Química da USP, ao analisar la-
boratórios de 3.740 escolas estaduais, concluíram
pela inutilidade de sua existência, constatando ser ilusório incentivar aulas
de laboratório na grande maioria das escolas estaduais. Com raríssimas
exceções, as salas não têm condições físicas para acolher os alunos e, o mais
importante, faltam professores especializados para organizar os laboratórios.
A
professora Reiko Isuyama, que coordenou a avaliação, afirmou que há casos de
extrema periculosidade: “Foram encontrados ácidos concentrados, solventes
cancerígenos e frascos de sódio metálico, substância que pode explodir em contato com a água e
atingir, por exemplo, um funcionário durante a limpeza da sala”. O relatório
revela que do jeito que está é melhor fechar os laboratórios, “é inútil fornecer
reagentes e vidrarias se os professores não sabem utilizá-los”.
Para
que os laboratórios possam funcionar com qualidade é preciso capacitar os
professores do ensino médio. Quando se fala em falência do ensino, uma das
causas apontadas é a falta de infra-estrutura das escolas. Percebe-se o
corolário que se forma: como usar a infra-estrutura se as escolas estão
desfalcadas de profissionais capacitados?
SITUAÇÃO
DOCENTE DESFAVORÁVEL NO 3.º GRAU – Sobre esse mesmo prisma, o MEC, por seu
Programa de Modernização e Qualificação de Ensino Superior, aplicou recursos na
compra de equipamentos de laboratórios e de hospitais universitários, em
projetos de melhoria da graduação, considerada a parte mais necessitada do ensino
superior. Contudo, o então vice-presidente da Associação Nacional dos
Dirigentes de Instituições Federais do Ensino Superior (Andifes), Odilon
Marcuzzo de Castro, questiona este investimento em infra-estrutura da
graduação. Disse que a capacidade de as universidades poderem usufruir dessas
melhorias fica inibida, porque não têm condições de investir em pessoal
qualificado: “Não há dúvida de que os incentivos em
laboratórios, em infra-estrutura e a criação pelo MEC de um sistema
de avaliação da qualidade do ensino superior – o provão – sinalizam políticas
de melhoria do Sistema, mas para ter qualidade é preciso ter professores
preparados e hoje, os professores preparados têm sido atraídos por
salários do setor privado”.
Triste
realidade! Com o alicerce minado, como conseguir pilares sólidos?!
Imprescindível afirmar que a qualidade é
fruto de uma somatória de fatores, em que baixo salário, condicionando baixa
qualidade de vida, é fator bastante relevante. Investimentos direcionados para
área de recursos humanos são os principais alvos apontados pelos reitores das
universidades.
Investir
na formação do professor é um princípio básico para se alcançar a revolução
educacional a que se pretende, porque a aprendizagem do aluno é proporcional à do professor. Na
educação, processos e métodos envelhecem rápido demais e os educadores precisam
estar sempre se atualizando, para acompanhar essa evolução e trazer o que tanto
se necessita, a melhoria da qualidade do ensino.
Acrescentamos a estas
considerações a constatação de Pedro Demo, prof. da Universidade de Brasília
(UnB): “Um país onde a média educacional da população gira em torno de 4 anos,
é um país de biscateiros, não uma sociedade com pessoas capazes de entrar no mercado
de trabalho e na economia competitiva”.
Estamos
no ano 2003 e a formação do professor continua falha. A freqüência à
universidade aumentou, aumentaram os anos de escolaridade, mas a qualidade de
ensino decaiu. O professor recebe um ensino defasado, deficitário nas
universidades e o repassa aos seus alunos
no mesmo molde,
priorizando, ainda, aulas
tradicionais, sem motivação, numa repetição viciada.
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