quinta-feira, 12 de julho de 2012

ENTRAVES À QUALIDADE DE ENSINO


Após ter participado de um encontro de estudos sobre os entraves a uma educação de qualidade,  reuni as conclusões e as relato neste artigo.
Está havendo universalização da oferta do ensino fundamental, mas não da oferta de um ensino de qualidade e sem esta, em termos pessoais e profissionais, a escolaridade esvazia-se.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em julho de 2001, demonstrou que mesmo o diploma do ensino médio não é mais garantia de emprego. As empresas estão selecionando os candidatos por tipo de escolaridade, pela escola que freqüentaram e não apenas pelo período de permanência na escola.
Entramos numa nova ordem social. Já passou a fase em que o mercado de trabalho exigia apenas maior número de anos de escolaridade para os que buscam o primeiro emprego. Agora, o que está sendo exigido é a maior qualificação dessa escolarização. Como conseguir estas qualificações nas escolas públicas?
Os currículos escolares mudaram, os planos pedagógicos mudaram, para poder acompanhar as exigências da nova clientela, mas o professor não mudou. Continua preso aos métodos convencionais, apoiando-se na memorização, na velha rotina da matéria decorada. O professor não aprendeu a desenvolver, nos alunos, competência, não assimilou os novos métodos de ensino, não sabe, ainda, como passá-los da teoria para a prática – sua formação foi baseada na teoria. Se a sala de aula não muda, nada muda. Hoje, dizemos que o professor precisa se tornar uma espécie de “antena do mundo”, unindo a teoria à prática.
A  escola  pública  vem  tendo  uma  tarefa cada vez mais complexa,
atende os mais diversos grupos sociais, desde o filho do professor, do dentista, como o filho da mãe solteira, do desempregado. Passa por uma crise no pensamento pedagógico, que não consegue encontrar uma resposta técnica ao contexto diversificado que marca sua realidade. Encontra dificuldade em lidar com as diferenças que convivem dentro do mesmo espaço.
A escola de hoje precisa discutir formas de fazer a inclusão social, de como romper as barreiras entre grupos sociais diferentes. Conhecer bem, pesquisar a realidade que a circunda, a partir daí criar projetos que colaborem com a melhoria das condições de vida da população local. Incluir, através da contextualização do currículo, métodos e trabalhos inovadores na área da educação.
O que se nota é que o professor não está preparado para lidar com os problemas do mundo contemporâneo, a se relacionar melhor com a comunidade, nos aspectos das relações humanas; preparado  para mudar seus métodos tradicionais, atualizá-los. Há um outro agravante,  a escola  ainda  se  mantém  sob  a  égide da profecia auto-realizadora, que discrimina e prejudica os mais necessitados. Os estereótipos, as opiniões negativas sobre a capacidade de aprender dos alunos permanecem “ipsis litteris”, isto é, tudo igual. Um estudo comparou os cadernos de exercícios dos alunos de 10 ou 15 anos atrás e notou que, praticamente, não houve mudança: exercícios parecidos, a mesma estrutura metodológica e, em algumas disciplinas, exatamente iguais.
A crise de violência da sociedade repercute na escola e a faz refém desse ambiente conturbado. Vivemos uma crise de confiança, de segurança, contaminando a escola, afetando, comprovadamente, a disposição de quem ensina e de quem aprende. Há a apreensão, a falta de perspectiva em relação ao futuro e o futuro é matéria-prima do trabalho do professor. A sociedade, assim como a estrutura educacional, mudou, mudaram-se as leis, mas os piores aspectos da realidade não só permanecem os mesmos, como denegriram ainda mais.
Temos que nos enquadrar no mundo em que vivemos, analisar a sociedade que existe e a que queremos, com o mundo em transformação e lutar para melhorá-la. A escola precisa contar com um nível técnico real por parte de seu pessoal, elevar a auto-estima dos alunos, melhorar sua auto-expressão, pois  que  elas  refletirão de  maneira  positiva, também,  na vida deles fora da escola. É indispensável envolver-se na discussão de estratégias que levem a uma melhor convivência humana. Estratégias que vão desde campanhas em prol da paz até a inclusão de temas, como ética e cidadania no currículo, criando situações para o seu exercício no dia-a-dia escolar e à realização de atividades culturais e esportivas nas escolas, também em fins-de-semana.
Para criar um ambiente favorável à aprendizagem, alunos, professores, comunidade escolar precisam aprender a conviver com a paz, com a solidariedade, valores esquecidos da sociedade. Num mundo em que a competição é regra número um, como esperar que as pessoas pratiquem a solidariedade?
É na convivência escolar que se trabalha, que se tenta quebrar a cultura do individualismo. A índia Francisca N. Pinto de Ângelo, então presidente do Conselho de Educação Escolar Indígena de Mato Grosso, na abertura da Universidade Estadual de Mato Grosso, desabafou, dizendo: “As universidades dos brancos ensinam como ser egoísta, competir no mercado de trabalho e que  só é melhor quem tem mais competência. Para o índio, isso não importa. Valorizamos a coletividade”.
Caixa de texto: Clique para voltar ao sumárioNo sentido de grupo, temos muito que aprender com os índios!

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