Após
ter participado de um encontro de estudos sobre os entraves a uma educação de
qualidade, reuni as conclusões e as
relato neste artigo.
Está
havendo universalização da oferta do ensino fundamental, mas não da oferta de
um ensino de qualidade e sem esta, em termos pessoais e profissionais, a escolaridade
esvazia-se.
Um
estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado em julho
de 2001, demonstrou que mesmo o diploma do ensino médio não é mais garantia de
emprego. As empresas estão selecionando os candidatos por tipo de escolaridade,
pela escola que freqüentaram e não apenas pelo período de permanência na escola.
Entramos numa nova ordem social. Já passou a fase em que o
mercado de trabalho exigia apenas maior número de anos de escolaridade para os
que buscam o primeiro emprego. Agora, o que está sendo exigido é a maior
qualificação dessa escolarização. Como conseguir estas qualificações nas
escolas públicas?
Os
currículos escolares mudaram, os planos pedagógicos mudaram, para poder
acompanhar as exigências da nova clientela, mas o professor não mudou. Continua
preso aos métodos convencionais, apoiando-se na memorização, na velha rotina da
matéria decorada. O professor não aprendeu a desenvolver, nos alunos,
competência, não assimilou os novos métodos de ensino, não sabe, ainda, como
passá-los da teoria para a prática – sua formação foi baseada na teoria. Se a
sala de aula não muda, nada muda. Hoje, dizemos que o professor precisa se
tornar uma espécie de “antena do mundo”, unindo a teoria à prática.
A escola pública
vem tendo uma
tarefa cada vez mais complexa,
atende
os mais diversos grupos sociais, desde o filho do professor, do dentista, como
o filho da mãe solteira, do desempregado. Passa por uma crise no pensamento
pedagógico, que não consegue encontrar uma resposta técnica ao contexto
diversificado que marca sua realidade. Encontra dificuldade em lidar com as
diferenças que convivem dentro do mesmo espaço.
A escola de hoje precisa discutir formas de fazer a inclusão
social, de como romper as barreiras entre grupos sociais diferentes. Conhecer
bem, pesquisar a realidade que a circunda, a partir daí criar projetos que
colaborem com a melhoria das condições de vida da população local. Incluir, através
da contextualização do currículo, métodos e trabalhos inovadores na área da
educação.
O que se nota é que o professor não está preparado para
lidar com os problemas do mundo contemporâneo, a se relacionar melhor com a
comunidade, nos aspectos das relações humanas; preparado para mudar seus métodos tradicionais,
atualizá-los. Há um outro agravante, a
escola ainda se
mantém sob a
égide da profecia auto-realizadora, que discrimina e prejudica os mais
necessitados. Os estereótipos, as opiniões negativas sobre a capacidade de
aprender dos alunos permanecem “ipsis litteris”, isto é, tudo igual. Um estudo
comparou os cadernos de exercícios dos alunos de 10 ou 15 anos atrás e notou
que, praticamente, não houve mudança: exercícios parecidos, a mesma estrutura
metodológica e, em algumas disciplinas, exatamente iguais.
A crise de violência da sociedade repercute na escola e a
faz refém desse ambiente conturbado. Vivemos uma crise de confiança, de segurança,
contaminando a escola, afetando, comprovadamente, a disposição de quem ensina e
de quem aprende. Há a apreensão, a falta de perspectiva em relação ao futuro e
o futuro é matéria-prima do trabalho do professor. A sociedade, assim como a
estrutura educacional, mudou, mudaram-se as leis, mas os piores aspectos da
realidade não só permanecem os mesmos, como denegriram ainda mais.
Temos
que nos enquadrar no mundo em que vivemos, analisar a sociedade que existe e a
que queremos, com o mundo em transformação e lutar para melhorá-la. A escola
precisa contar com um nível técnico real por parte de seu pessoal, elevar a
auto-estima dos alunos, melhorar sua auto-expressão, pois que
elas refletirão de maneira
positiva, também, na vida deles
fora da escola. É indispensável envolver-se na discussão de estratégias que
levem a uma melhor convivência humana. Estratégias que vão desde campanhas em
prol da paz até a inclusão de temas, como ética e cidadania no currículo,
criando situações para o seu exercício no dia-a-dia escolar e à realização de
atividades culturais e esportivas nas escolas, também em fins-de-semana.
Para criar um ambiente favorável à aprendizagem, alunos,
professores, comunidade escolar precisam aprender a conviver com a paz, com a
solidariedade, valores esquecidos da sociedade. Num mundo em que a competição é
regra número um, como esperar que as pessoas pratiquem a solidariedade?
É na convivência escolar que se trabalha, que se tenta
quebrar a cultura do individualismo. A índia Francisca N. Pinto de Ângelo,
então presidente do Conselho de Educação Escolar Indígena de Mato Grosso, na
abertura da Universidade Estadual de Mato Grosso, desabafou, dizendo: “As
universidades dos brancos ensinam como ser egoísta, competir no mercado de
trabalho e que só é melhor quem tem mais
competência. Para o índio, isso não importa. Valorizamos a coletividade”.
No sentido de grupo, temos muito que aprender com os
índios!
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